CRÓNICAS

A arte de incluir mundos

Este é um espaço onde a vivência em arte-terapia se revela como linguagem de acolhimento e transformação. Aqui, cada traço, cor ou forma é um convite para o encontro e para a expressão criativa com liberdade. Nesta coluna, celebramos o potencial da criação através da arte como caminho para a inclusão — um lugar onde todos os mundos cabem e novos mundos são construídos ou descobertos.

Poucas práticas no mundo têm o potencial de inclusão que a arte possui, e é por isso que a arte-terapia revela-se como um caminho sensível privilegiado para acolher diferenças e promover encontros. Ao inserir processos criativos no contexto psicoterapêutico, a arte-terapia oferece a cada indivíduo — independentemente de sua condição física, emocional, social ou cognitiva — um espaço legítimo de expressão e pertença.

Como uma terapia de ação, é orientada para a produção visual, mas também inclui o corpo, a música, o drama, o jogo. Faz parte do processo realizar, criar e transformar a arte e os materiais de maneira livre e reconhecida na relação terapêutica. Assim, muitas possibilidades expressivas são facilitadas para ir ao encontro das necessidades criativas de cada um, uma vez que a liberdade é a base do processo.

A arte, em sua essência, já carrega uma força libertadora. Desenhar, pintar, modelar, entoar ou dançar são formas ancestrais de comunicação que podem substituir ou contribuir com as palavras. Na arte-terapia, essa potência é canalizada para criar ambientes seguros, onde as emoções podem ser exprimidas e elaboradas sem julgamentos. Não é apenas para pessoas com deficiências, neurodivergentes, idosos ou com qualquer diferença da normatividade saudável, mas para todos que sintam que os seus sentimentos precisam de canais de segurança e conforto para serem expressos. A arte na arte-terapia dá forma às emoções e ajuda a que todos que possam criar neste contexto sintam-se incluídos e reconhecidos nas suas capacidades criativas.

A arte-terapia não pode ser só arte, como não é apenas terapia. Quando estes dois fatores se unem, a arte que promove a construção de coisas belas e a terapia que encaminha para a (re)construção do mundo interior, proporcionam uma viagem de inigualáveis emoções. Uma das suas grandes vantagens enquanto ferramenta de inclusão é o respeito e o valor à singularidade. Não há certo ou errado, como não há bonito nem feio, mas no final, com certeza tudo fica belo! Porque a satisfação em criar e o significado da criação é o que traz sentido ao processo.

A liberdade criativa vai permitir também que cada participante encontre suas próprias formas de se comunicar e de existir no mundo, fortalecendo sua autoestima e sua autonomia. Seja uma criança com a linguagem limitada, por exemplo, ou por uma pessoa idosa que perdeu a capacidade de falar devido a um acidente vascular cerebral ou demência, ou ainda, quando se trata de uma vítima de trauma, que pode ser incapaz de falar sobre determinado assunto. Podem encontrar na arte um suporte à sua expressividade e na relação terapêutica uma fonte afetiva de confiança.

Daniela Martins é arte-terapeuta e psicoterapeuta. Trabalha com pessoas de todas idades, desde de crianças aos idosos, proporcionando momentos criativos e estimulando o encontro com o melhor delas próprias. Investe na arte e na criatividade como formas de afeto e saúde mental.

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