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A Arte de Incluir Mundos

Este é um espaço onde a vivência em arte-terapia se revela como linguagem de acolhimento e transformação. Aqui, cada traço, cor ou forma é um convite para o encontro e para a expressão criativa com liberdade. Nesta coluna, celebramos o potencial da criação através da arte como caminho para a inclusão — um lugar onde todos os mundos cabem e novos mundos são construídos ou descobertos.

A arte não envelhece! Incluir as idades avançadas

“Eu achava que já não era capaz de fazer uma coisa tão bonita assim…” Ouço esta frase constantemente quando estou com o grupo de arte-terapia com pessoas com idades avançadas. (Confesso: não gosto nada de usar o termo ‘idoso’…).

Dizem que envelhecer é uma arte, e deve ser mesmo. Afinal, com o passar do tempo, vamos colecionando histórias, afetos, memórias… aprendemos tanto, moldamos e desenhamos caminhos conforme o melhor da nossa criatividade. O corpo adapta-se à vida, e a vida adapta-se ao nosso corpo. Tudo muda rapidamente e, eventualmente, tornamo-nos mais lentos.

Mas será possível permanecermos incluídos, integrados e criativos?

Desenhar como não se fazia desde os tempos da escola, pintar e brincar com cores e formas. Inventar pincéis diferentes e divertidos. Descobrir maneiras originais de tornar a expressão artística inclusiva e acessível. A vivência estética estimula a criatividade e traz também benefícios cognitivos. O exercício manual e a motricidade são ativados, e na composição das imagens procura-se o equilíbrio.

Na arte-terapia, a pessoa com idade avançada experimenta um espaço onde se sente incluída e valorizada, pois mesmo com todas as dificuldades impostas pelo tempo, pode criar com liberdade, sem julgamento, e sentir a realização de construir coisas belas.

Símbolos de si próprios são reconhecidos, histórias são recontadas e o sentimento de autoestima é fortalecido. A pessoa que já viveu várias décadas reencontra pedaços do seu mundo que ficaram guardados em algum canto da memória. Às vezes diverte-se ao contar essas histórias, outras vezes elas são tristes. Não faz mal, a arte acolhe todas as histórias e, pela imaginação, é possível recriá-las.

Manter a capacidade de criar é fundamental para a autoconfiança, sobretudo numa fase da vida em que se podem perder pessoas, saúde, vitalidade, o trabalho ou vivências sociais. Criar através das artes ajuda a reparar sentimentos de perda e de luto, já que os objetos criativos apelam à transformação, à mudança e ao sentido de novidade. A autonomia e a competência são reforçadas.

Um grupo de arte-terapia também facilita a comunicação e a partilha criativa, evitando o isolamento e os sintomas depressivos. Nesse encontro que inclui a criatividade, a satisfação e o bem-estar, pintam-se as cores de toda uma vida.

Daniela Martins é arte-terapeuta e psicoterapeuta. Trabalha com pessoas de todas idades, desde crianças aos idosos, proporcionando momentos criativos e estimulando o encontro com o melhor delas próprias. Investe na arte e na criatividade como formas de afeto e saúde mental.

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