ODS 6 – Água potável e saneamento

Quando se fala dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU, há um que costuma passar mais despercebido,  mas que literalmente nos sai pelo cano se não for levado a sério: o ODS 6 – Água Potável e Saneamento. Parece básico, mas ainda hoje há milhões de pessoas que vivem sem acesso àquilo que tu, provavelmente, tens por garantido cada vez que giras uma torneira ou puxas o autoclismo. Vamos pôr as coisas em perspectiva: o ODS 6 compromete-se a garantir a disponibilidade e a gestão sustentável da água e do saneamento para todos até 2030. E antes que digas isso é lá para os países em desenvolvimento, deixa-me contar-te uma coisa: mesmo em Portugal, há zonas rurais ou ilhas onde o acesso a água potável e saneamento digno não é garantido. Sim, em pleno século XXI. Mas porquê tanta preocupação com água e saneamento? Porque sem água potável, a saúde pública afunda. E sem saneamento básico, os riscos de doenças aumentam exponencialmente. Diarreias, infeções, cólera, todas evitáveis com estruturas básicas. E, surpresa: são as crianças, pessoas com deficiência e comunidades marginalizadas que mais sofrem com esta negligência. E o que é que isto tem a ver com inclusão? Tudo. Porque quando falamos de pessoas com deficiência, falamos de acessibilidade  e isso não se resume a rampas ou elevadores. Sanitários acessíveis, água corrente para higiene pessoal, duches adaptados são detalhes que fazem toda a diferença entre viver com dignidade ou viver com constantes humilhações. Imagina depender de terceiros para algo tão básico como usar a casa de banho porque o espaço público não foi desenhado a pensar em ti. Aliás, a água também é uma questão de género. São, maioritariamente, mulheres e raparigas que caminham quilómetros em muitos países para trazer água para casa. E adivinha? Se tiverem deficiência, o desafio duplica. Saneamento digno também significa segurança para quem menstrua, para quem precisa de trocar fraldas de adulto, ou para quem vive com ostomias.

E o Algarve? Sim, o Algarve, terra de turismo e postais bonitos, também tem os seus desafios. Escassez de água, más práticas agrícolas, pressão turística sobre os recursos hídricos. Há muito por fazer para garantir que a água que usamos não compromete a que outros precisam para viver. E o saneamento? É tempo de garantir que não há retrocessos, e que cada nova construção, seja casa, escola ou praia, vem com infraestrutura inclusiva e sustentável. Portanto, da próxima vez que pensares que isto do ODS 6 é conversa de políticos, lembra-te que é conversa de quem não quer que ninguém fique para trás. Nem sem água. Nem sem dignidade.

FG