A Arte de Incluir Mundos
Este é um espaço onde a vivência em arte-terapia se revela como linguagem de acolhimento e transformação. Aqui, cada traço, cor ou forma é um convite para o encontro e para a expressão criativa com liberdade. Nesta coluna, celebramos o potencial da criação através da arte como caminho para a inclusão — um lugar onde todos os mundos cabem e novos mundos são construídos ou descobertos.
Quais são os melhores materiais artísticos para a inclusão?
Provavelmente, são aqueles que sejam mais fáceis de manusear, que estimulem a imaginação ou que sejam bem aceites por todos. E essa não é tarefa fácil, pois um dos pontos altos da arte-terapia é precisamente a adequação dos materiais e recursos às necessidades criativas de cada pessoa ou grupo.
É importante escolher tintas, lápis e canetas que produzam tonalidades e formas de modo simples, sem exigirem grandes esforços manuais ou mesmo cognitivos, para que possam ser utilizadas da melhor maneira por todas as mãos (ou pés, como fazem os artistas da Associação dos Pintores com a Boca e o Pé – APBP, um exemplo inspirador de inclusão!). Materiais riscadores largos e macios, que deslizem facilmente e preencham bem a mão, funcionam melhor quando não há motricidade fina. Tintas e pigmentos laváveis, fluidos, que exijam o mínimo de recursos — basicamente tinta, água e pincel — também são ideais.
E se criássemos com pincéis diferentes? Cordões, rolos, garrafas, palha, panos… tudo isso pode ajudar as imagens a surgirem com mais facilidade, com menos exigência técnica e, é claro, de forma muito mais divertida! Volumes e texturas variadas, através de materiais reciclados, como caixas, CDs, frascos ou rolos de papel, trazem uma diversidade de possibilidades de transformação. Ganham nova vida, novos significados, e ajudam a criar novos mundos simbólicos.
Os materiais moldáveis são uma questão à parte — adorados por uns, odiados por outros. Há os que sujam e os que não sujam. A plasticina desperta alegria no moldar, com as suas cores vibrantes e infinitas possibilidades criativas. Já o barro, ou a massa de modelar, sujam as mãos, o que pode não agradar a todos. Mas, para quem não se importa, o barro, sobretudo se for natural, promove um encontro com a mãe-terra, trazendo a natureza para as mãos. O seu toque, firme ou suave, é irresistível.
As questões relacionadas com a sujidade são também relevantes na escolha dos materiais. Será que todos se vão sentir confortáveis? E, se não se sentirem, existem alternativas? Na arte-terapia, o processo criativo é sempre facilitador, nunca confrontador. O conforto proporcionado pelos materiais é essencial para que a pessoa se sinta verdadeiramente livre para criar!
O manusear, experimentar e a perceção das características de um material fazem parte do processo criativo. Este percurso de descoberta pode refletir sentimentos despertados pelo estímulo sensorial. As cores que levam a emoções, as sensações trazidas pelas texturas e, até mesmo, os cheiros, que evocam memórias e sentimentos.
Refletir sobre os materiais e recursos utilizados nos processos criativos é fundamental para estimular o melhor da criatividade que cada um tem dentro de si. Afinal, embora a criação seja feita com materiais, o conteúdo vem do mundo interno do criador.
Daniela Martins é arte-terapeuta e psicoterapeuta. Trabalha com pessoas de todas idades, desde de crianças aos idosos, proporcionando momentos criativos e estimulando o encontro com o melhor delas próprias. Investe na arte e na criatividade como formas de afeto e saúde mental.

