With.Care chega a Aljustrel
O projeto que está a mudar vidas — e a fazer falta noutros cantos
Se alguma vez houve um projeto que deveria vir com a etiqueta “urgente replicar”, é este. Falamos do With.Care, a iniciativa da APEXA que chegou agora a Aljustrel com o apoio da CerciBeja, mas que não veio sozinha. A expansão conta também com os braços e corações da Casa do Povo de São Bartolomeu de Messines e da ACRA Alvorense.
E tudo isto com um empurrão fundamental do prémio Fidelidade Comunidade, que não financia projetos – financia transformação.

Mas a verdadeira estrela desta história é a Ana Paula, cuidadora de uma filha de 26 anos com perturbação do espectro do autismo. Vive em Aljustrel, uma vila onde os apoios escasseavam e o silêncio dos cuidadores era quase ensurdecedor. Até agora.
“Foi uma luz”, disse-nos Ana Paula, logo após participar no primeiro grupo de suporte.

“Foi bom falar com outras pessoas e na esperança de abrir um caminho.”
Um caminho que se abre em grupo
Para muitos cuidadores, o dia-a-dia é um mar de tarefas, cansaço e culpa, rematado por uma solidão que ninguém quer ver. É por isso que os grupos de suporte do With.Care não são apenas “encontros” – são atalhos para a sanidade mental, espaços onde se respira fundo e onde se ouve, pela primeira vez em muito tempo, um “eu também”.
Ana Paula não tem dúvidas:
“Acho que toda a gente havia de entrar nestas reuniões… porque ninguém é de ferro.”
E quem ouve isto e acha que é exagero, que experimente cuidar de um familiar com deficiência sem rede, sem pausa e sem apoio. Verá como o “ninguém é de ferro” deixa de ser figura de estilo e passa a ser mantra de sobrevivência.
Com quem se pode contar?
A chegada a Aljustrel não é um milagre isolado – é resultado de uma parceria sólida entre a APEXA e instituições com os pés no terreno:
- CerciBeja, que já conhece bem os desafios da inclusão no Baixo Alentejo;
- Casa do Povo de Messines, com um histórico de proximidade à comunidade local;
- e a ACRA Alvorense, que prova que a inclusão não é um tema urbano — é um dever de todos os territórios.
Juntas, estas instituições estão a montar grupos de suporte que não se limitam a existir: fazem a diferença. O impacto é direto, emocional, e – sejamos honestos – devia criar uma certa inveja saudável a outras associações e autarquias por esse país fora.

“Olhem para Aljustrel”
Se em Aljustrel, com todos os desafios do interior, foi possível montar um grupo de suporte onde os cuidadores saem mais leves, mais escutados e mais preparados… então não há desculpa. A replicação do modelo With.Care devia estar no radar de todas as instituições que se dizem comprometidas com a inclusão e a saúde mental.
O que é preciso? Vontade, humildade para ouvir os cuidadores, e a capacidade de fazer perguntas como: “Quem cuida de quem cuida?”.
Porque como disse a Ana Paula:
“É muito importante. É uma ajuda muito grande.”
Este é o momento. Está na hora de parar de fingir que os cuidadores conseguem sozinhos.
O With.Care está a mostrar o caminho — agora só falta segui-lo.
Fonte: Reportagem e entrevista realizada com Ana Paula durante sessão do grupo de suporte With.Care em Aljustrel, abril 2025.

