Futurismo, Máquinas e Inclusão – As Crónicas das 17h
O progresso não pode deixar ninguém para trás – nem a alta velocidade!
Há 115 anos, Filippo Tommaso Marinetti publicou o “Manifesto do Futurismo”, um texto que gritava aos quatro ventos a glorificação da modernidade, da velocidade, da tecnologia e da força bruta. O passado? Lixo. A tradição? Um entrave. A lentidão? Um erro a ser corrigido. O movimento futurista queria um mundo onde tudo fosse rápido, forte e, sejamos honestos, um bocadinho obcecado com a máquina perfeita.
Agora, imaginem pegar nestas ideias e olhar para elas com os olhos de quem defende a inclusão e a diversidade. Será que o futuro que Marinetti sonhava tinha lugar para quem não encaixava no seu ideal de velocidade e perfeição? E mais importante: será que podemos reescrever esta história para garantir que a inclusão tem um lugar de destaque no futuro?
Quando o progresso acelera demais e atropela a inclusão
O Futurismo, com toda a sua energia de “vamos destruir tudo e começar do zero”, tinha uma relação complicada com a diversidade humana. A obsessão pela força e pela rapidez deixava pouco espaço para aqueles que não seguiam o ritmo imposto. Pessoas com deficiência, idosos ou qualquer pessoa que fugisse ao molde do corpo “ideal” não eram exatamente celebradas por este movimento.
Mas a ironia é gritante. Durante a Primeira Guerra Mundial, enquanto os futuristas exaltavam a guerra como “a única higiene do mundo” (sim, eles disseram isto…), milhões de soldados voltavam das trincheiras com membros amputados, cegos, traumatizados e com outras incapacidades permanentes. De repente, a realidade bateu de frente com o sonho da máquina humana perfeita.
E depois, há um detalhe preocupante: algumas ideias futuristas influenciaram diretamente o fascismo italiano, que por sua vez promoveu políticas eugénicas e a exclusão de pessoas com deficiência. Basicamente, a sociedade começou a dividir as pessoas entre as que “serviam” para o futuro e as que deviam ser postas de lado. Uma distopia assustadora, não acham?
E se usássemos a tecnologia para incluir, e não excluir?
Agora, não vamos deitar fora tudo o que o Futurismo nos trouxe. Afinal, se há algo que este movimento amava era a tecnologia – e aqui podemos encontrar um ponto de viragem.
Se os futuristas adoravam máquinas, porque não reinterpretar essa ideia de uma forma mais inclusiva? Hoje, a tecnologia não é inimiga da inclusão – pelo contrário, pode ser a sua maior aliada!
• Cadeiras de rodas motorizadas e exoesqueletos – Quem disse que a velocidade tem de ser exclusiva de quem anda?
• Próteses avançadas e impressão 3D – A fusão entre homem e máquina, mas para dar autonomia a quem precisa.
• Inteligência artificial e acessibilidade digital – Ferramentas que ajudam pessoas cegas, surdas ou com dificuldades motoras a navegar pelo mundo com independência.
Se o Futurismo defendia que devíamos “matar o passado”, talvez seja hora de matar a ideia de que o progresso precisa de deixar pessoas para trás. A verdadeira revolução tecnológica é aquela que nos leva a todos, sem exceção, para um futuro onde cada um pode viver ao seu próprio ritmo – seja a 200 km/h ou a 2 km/h.
Portanto, parabéns ao Manifesto Futurista pelos seus 115 anos! Mas desta vez, vamos celebrá-lo à nossa maneira: com um futuro onde ninguém precisa de ser perfeito para fazer parte do progresso.
Tomás Vicente

