Judo: No Tapete da Inclusão
Em Albufeira, o judo provou que a inclusão é mais do que um ideal — é um movimento.
Albufeira esteve mais viva do que nunca no passado domingo, 8 de dezembro. No Pavilhão Desportivo de Olhos de Água, o 44º Aniversário da Associação Distrital de Judo do Algarve (ADJA) e a final da Liga Clima-X Daikin 2024 uniram atletas, famílias, treinadores e curiosos num evento que foi muito mais do que desporto: foi um hino à inclusão.
Os galardões brilharam, mas não tanto quanto os olhos das dezenas de participantes no Encontro Distrital de Judo Adaptado. Entre quedas ensaiadas e risos espontâneos, foi fácil perceber que este não era só um evento desportivo — era um espaço de crescimento e superação, tanto para os atletas como para quem teve o privilégio de assistir.
Uma manhã de emoções fortes
Mais de quinze atletas excecionais participaram no Encontro Distrital de Judo Adaptado, mostrando que, no tapete, a força interior e a determinação são as verdadeiras medidas de sucesso. “Há dois meses, alguns tinham medo até de se sentar no chão. Hoje, caem, levantam-se e lutam com uma autonomia surpreendente” partilhou Ricardo Henriques, treinador de judo adaptado, emocionado com a evolução dos atletas.
O evento foi uma oportunidade para celebrar o impacto do judo não apenas como desporto, mas como uma ferramenta de inclusão e transformação. O treinador Filipe Santos, presidente da Academia de Judo do Arade, descreveu o ambiente: “O que vimos hoje é mais do que um torneio. É um exemplo do que a força de vontade, o trabalho em equipa e o apoio da comunidade podem alcançar.”
“O judo adapta-se a qualquer pessoa, independentemente das suas limitações físicas ou intelectuais.”
Judo: uma modalidade para todos
O presidente da ADJA, Dinis Pinto, sublinhou a importância do judo enquanto desporto inclusivo: “O judo adapta-se a qualquer pessoa, independentemente das suas limitações físicas ou intelectuais. Aqui, o respeito, a coragem e a amizade são valores que nos unem.”
O exemplo de Joana Santos, uma judoca surda que compete tanto a nível nacional como internacional, foi um dos momentos altos da manhã. Recém-homenageada, Joana é uma inspiração para muitos. “A sua resiliência, em superar barreiras de comunicação e competir de igual para igual, é um exemplo claro de como o desporto pode transformar vidas” destacou Custódio Moreno, diretor regional do Instituto Português do Desporto e Juventude (IPDJ). Custódio foi claro ao reforçar o papel inclusivo do desporto: “O desporto é para todos. Queremos criar campeões para a vida, não apenas campeões desportivos. E iniciativas como estas mostram o impacto que o desporto pode ter na construção de uma sociedade mais justa e igualitária.”
O judo, mais do que uma modalidade, é uma filosofia de vida. Enraizado em valores como respeito, coragem e amizade, adapta-se a qualquer pessoa, como fez questão de acrescentar Filipe Santos “Aqui, ninguém é deixado para trás. O judo é universal, seja no Algarve, em Lisboa ou no Japão.”
Inclusão em ação: projetos que fazem a diferença
O evento também serviu como plataforma para lançar os projetos futuros da ADJA e da APEXA. A expansão do judo adaptado para outras localidades do Algarve já está nos planos, com a meta de integrar mais pessoas com deficiência nas atividades desportivas.
“Queremos que o Algarve seja referência em desporto inclusivo,” afirmou Dinis Pinto. “O próximo passo é levar uma equipa de judocas excecionais ao Campeonato Nacional de Judo Adaptado, e para isso contamos com o apoio das associações locais e da comunidade.”
O trabalho conjunto dos espaços da APEXA, Lacus (em Lagoa) e Próvida (em Albufeira), com clubes como a Academia de Judo do Arade e o Clube Desportivo Areias de São João, tem sido fundamental. Filipe Santos também destacou a colaboração das Câmaras Municipais, que cedem espaço para os treinos e eventos: “Sem este tipo de apoio, seria impossível chegar tão longe em tão pouco tempo.”
Como dizíamos, o evento não foi apenas uma celebração, mas também um ponto de partida para novas ideias, estão previstas várias iniciativas para 2025. A meta? Expandir o judo adaptado a mais localidades no Algarve e Baixo Alentejo, possibilitando que mais pessoas com deficiência encontrem no desporto uma forma de integração.
Cristiano Cabrita, vice-presidente da Câmara Municipal de Albufeira, destacou o impacto transformador do judo adaptado no contexto da candidatura vencedora de Albufeira a Cidade Europeia do Desporto 2026. “Eventos como este são um exemplo perfeito do que queremos promover enquanto Cidade Europeia do Desporto. O judo adaptado não só reforça o compromisso com a inclusão como sublinha a importância de modalidades que vão além das mais mediáticas. Estas iniciativas contribuem para uma sociedade mais coesa e para a formação de cidadãos mais conscientes. Em Albufeira, o desporto é para todos, e estamos sempre prontos a apoiar projetos que demonstrem essa visão inclusiva.”
Dinis Pinto revelou ainda que um dos objetivos para o próximo ano é levar uma equipa de judocas excecionais ao Campeonato Nacional de Judo Adaptado. “Queremos mostrar que o Algarve é um exemplo de desporto inclusivo. A prática do judo tem um impacto direto na qualidade de vida, promovendo a autonomia, a confiança e a socialização dos nossos atletas” afirmou.
“Queremos descentralizar o judo e criar mais oportunidades para todos. Este é apenas o início de uma nova etapa.”
O futuro do judo adaptado
O testemunho de atletas, treinadores e organizadores revelou que o judo é mais do que um desporto. É uma filosofia de vida que promove o respeito, a disciplina e a inclusão. Para o presidente da ADJA, o objetivo é claro: “Queremos descentralizar o judo e criar mais oportunidades para todos. Este é apenas o início de uma nova etapa.”
Joana Santos, a atleta homenageada, sintetizou o espírito do evento: “O judo é a minha paixão. Aqui, aprendi que as minhas limitações não definem quem eu sou. Espero que outras pessoas vejam no judo uma forma de se superarem.”
No final da manhã, o sentimento entre os presentes era unânime: o judo adaptado não só desafia preconceitos, como também inspira a ação. O evento foi um verdadeiro manifesto pela inclusão, uma prova de que, com vontade e trabalho, podemos construir uma sociedade mais justa, onde todos têm lugar no tapete – e na vida.
Reportagem: Fernando Guimarães | Redação: Nuno Miguel Neto | Fotografia: Alberto Cortez / Alexandre Costa