Acessibilidade: Direito ou Privilégio?
A inclusão começa quando percebemos que o mundo não é só nosso.
Se a tua resposta imediata à pergunta do título foi “Direito, claro!”, parabéns! Estás no caminho certo. Mas se tiveste uma ligeira hesitação ou, lá no fundo, pensaste que há limitações que justificam a inacessibilidade, então este artigo é para ti.
Acessibilidade: um luxo?
Vamos ser diretos, a acessibilidade não é um bónus simpático que as sociedades oferecem às pessoas com deficiência, é um direito humano fundamental. Está consagrado na Convenção das Nações Unidas sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência, na Constituição Portuguesa e em diversas leis nacionais e internacionais. No papel, tudo parece bem. Mas na prática? Bem, nem tanto.
O problema é que muita gente ainda encara a acessibilidade como um favor. Como se construir rampas, instalar elevadores ou oferecer formatos alternativos de comunicação fosse um ato de generosidade e não uma obrigação. Resultado? Pessoas com deficiência continuam a ser excluídas de espaços públicos, transportes, escolas, empregos e até do lazer.
Mas não dá para mudar tudo de um dia para o outro!
Pois não. Mas também não dá para continuar a ignorar o problema. O argumento do “não há dinheiro” ou “não há recursos” já não cola. Porque a verdadeira questão não é falta de orçamento mas sim falta de prioridade. Se há dinheiro para rotundas duvidosas e estátuas esquisitas, há dinheiro para acessibilidade.
A verdade é que quando pensamos em acessibilidade, muitas vezes lembramo-nos apenas das cadeiras de rodas e das rampas. Mas a acessibilidade vai muito além disso! Ecrãs interativos, legendagem em tempo real, informação em braille, atendimento inclusivo… tudo isto faz parte de um mundo mais acessível para todos.
Desenho Universal: urbanismo para todos!
Já ouviste falar do conceito de “desenho universal”? Basicamente, significa que quando criamos algo acessível para um grupo específico, acabamos por beneficiar toda a sociedade. Um exemplo clássico? Os passeios rebaixados nas passadeiras. Foram pensados para cadeiras de rodas, mas hoje são usados por carrinhos de bebé, idosos e até por pessoas distraídas que tropeçam menos.
Se te interessa este tema, não podes perder o episódio do Podcast “Ondas de Impacto”, onde Fernando Guimarães conversa com Américo Mateus sobre “Urbanismo para Todos”
O Américo Mateus é professor universitário e especialista em inovação e design estratégico, e neste episódio explica como podemos criar cidades mais inclusivas e sustentáveis para toda a gente. Ele defende que o urbanismo deve ter em conta as necessidades de todas as pessoas, independentemente da sua mobilidade, idade ou capacidade. Afinal, uma cidade bem pensada não beneficia só quem tem deficiência – melhora a qualidade de vida de todos.
Isto prova que a acessibilidade não é uma questão de caridade, mas sim de inteligência e planeamento. Se construirmos cidades com inclusão desde o início, evitamos problemas e custos futuros. Ou seja, desenhar um mundo mais acessível é um investimento, não um gasto.
Então, o que falta?
Falta acabar com a mentalidade do “não dá jeito” e substituir pelo “tem de ser feito”. Falta mais pressão social, mais voz ativa de todos nós.
No fundo, falta percebermos que a acessibilidade nunca foi, não é e nunca será um privilégio. É um direito. E um direito que tem de ser respeitado.
E tu, já olhaste à tua volta para perceber se o mundo onde vives é mesmo acessível? 😉
A foto que acompanha este artigo é da autoria de Eren Li, retirada do site Pexels.

